
A internet nos dá acesso a infinitas possibilidades de pesquisa e informação, ajudando inclusive na educação dos nossos filhos. O advento da internet revolucionou a forma como nos informamos e nos comunicamos. Nesse contexto, as redes sociais têm uma participação importante. Atualmente é raro encontrar uma pessoa que não tenha uma conta no Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Whatsapp, entre outros. Estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo utilizem essas plataformas.
Mas, ao passo que a internet tem seu lado positivo, ela pode representar uma porta aberta para diferentes tipos de perigos, especialmente para as crianças e adolescentes. Nesse cenário, a família tem papel fundamental para impor limites e blindar seus filhos contra os inúmeros riscos que o ambiente virtual trás.
Para ajudar nessa reflexão, a Escola Bilíngue Pueri Domus ofereceu aos pais de alunos da unidade Verbo Divino, na última semana, a oficina ‘Educar em Tempos de Perigos nas Redes Sociais’. A psicóloga e coach Roberta Conte falou sobre os cuidados que as famílias podem ter para proteger e educar seus filhos quanto ao uso das mídias sociais. E concedeu uma entrevista ao Blog do Pueri. Confira:
BLOG DO PUERI – Existe idade certa para começar a usar redes sociais?
ROBERTA CONTE – Quando a gente fala em redes sociais, segundo alguns especialistas, a idade ideal para se começar a usar é a partir da pré-adolescência. É óbvio que isso está relacionado a como os pais lidam com a criança ou com o adolescente, e à relação de confiança dessa família. Trabalho há mais de 20 anos com famílias em meu consultório e, mais importante do que dizer sim ou não para o uso de redes socias, é estar atento às relações que estabelecemos dentro de casa. Não podemos colocar nossos filhos numa ‘caixinha’ e falar: é isso, é esse o correto. Cada família, atua e funciona de forma distinta. Levando em conta essa relação é que devemos dizer sim ou não para as redes socias para nossos filhos. Três questões importantes a se pensar:
– Eu, como pai ou mãe, tenho disponibilidade para acompanhar meu filho nas redes sociais?
– Meu filho tem uma relação aberta comigo para me contar sobre o que está acontecendo fora do que meus olhos podem ver?
– É realmente importante para meu filho já ter sua rede social? Quais os benefícios e quais os males que uma rede social pode causar? Discuta com ele esse tema e escute o que ele tem a dizer.
BP – Quais os cuidados que os pais devem ter? Quais as questões às quais eles devem ficar atentos?
RC – Todos os cuidados são poucos. Da mesma forma que a internet é muito boa, que nos ajuda em uma séria de questões para que as crianças possam aprender mais e crescer, também existe um lado devastador, inclusive no sentido das emoções. Hoje a gente ouve falar muito sobre grooming, que é a questão da pedofilia nas redes sociais. Então, todo cuidado é pouco. Temos que impor algumas regras ou fazer alguns ‘contratos’ com eles, e um dos mais importantes, para mim como mãe e como profissional, é: nossos filhos não podem acessar a internet com portas fechadas, porque dentro do quarto deles, virtualmente eles podem ‘estar’ numa balada, num jogo violento, num filme impróprio, ou até mesmo acessando sites pornográficos, ou em qualquer outro ambiente que pode ser perigoso. Hoje temos que assumir o diálogo como principal fonte de relacionamento com eles. Não podemos nos constranger com nenhum assunto. Claro que cada faixa etária tem suas dúvidas e questões, mas nós, como pais, devemos nos preparar para conversar e ajudá-los nas dúvidas mais importantes que permeiam a mente das nossas crianças e jovens. Antigamente, quando nós saíamos, nossos pais diziam ‘não fale com estranhos’. E, hoje, nossos filhos podem estar falando com estranhos mesmo dentro do próprio quarto, falando com pessoas que nós nem sonhamos. Então, a atenção, o contato com a realidade deles, o diálogo, as portas abertas, são hábitos que os pais, nos dias de hoje, têm obrigação de ter.
BP – Você acha que os pais devem ter as senhas das redes sociais dos filhos?
RC – Eu acho que devem, sim. O que acontece hoje é que nós, pais, estamos muito perdidos.
Não queremos ser chatos e, com isso, estamos esquecendo do principal, que é cuidar das nossas jóias mais preciosas. Já não sabemos impor limites, negociar regras, dar ordem, e até ser rígido quando for necessário. A gente tem medo de colocar limites nos nossos filhos. A gente tem medo de dizer ‘estamos cuidando de vocês’. É de fundamental importância começarmos a trabalhar numa ‘contracorrente’ para fazer exatamente o contrário. A gente tem, sim, que cuidar. Porque cuidar é amar. Dizer, ‘não’ é uma forma de amor. É preparar nossos filhos para aguentarem frustrações futuras, em qualquer área da vida deles. Como é que era o cuidado na nossa época? Nós também não achávamos nossos pais chatos quando eles diziam para não fazer isso ou aquilo, ou para colocar o casaco? A gente achava tudo muito chato. Então, que nossos filhos possam nos achar chatos também, porque isso traduz cuidado, amor e limite. E é isso que fortalece a autoestima e a confiança de uma criança nos próprios pais: é saber que esses ‘pais chatos’ estão cuidando dela.
BP – Então é necessário, também, monitorar o conteúdo que os filhos acessam na internet?
RC – Todo cuidado é necessário. Nós precisamos saber quais são os canais de YouTube que nossos filhos estão assistindo. Isso é muito importante. Precisamos saber os jogos que eles estão acessando. Até as conversas no Whatsapp, as postagens no Instagram e principalmente no Snapchat, que são apagados após determinado tempo. É obvio que não vamos conseguir controlar todos esses meios de comunicação, por isso, abrir um canal de diálogo com eles se tornou a arma mais poderosa que temos em nossas mãos. Embora a criança ou adolescente relute, ter esse controle é fundamental. Mas precisamos encontrar caminhos para entrar nessa realidade, nesse universo dos jovens de hoje. Muitas vezes eu escuto no meu consultório as mães dizendo ‘mas eu não me interesso pela internet’. E eu sempre digo: ‘mas precisa se interessar’. Se você não se interessa porque não gosta, terá que se interessar porque sua jóia mais preciosa está usando esse meio de comunicação, e ela pode ser roubada de você a qualquer momento.
INTERVIEW
Psychologist offers tips on how to protect children and adolescents against the risks of social networking sites
The internet gives us access to infinite possibilities of research and information, and even helps us educate our children. The advent of the internet has revolutionized how we receive information and communicate. Social networking sites play an important role within this context. Rarely do we see a person nowadays who does not have an account on Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, WhatsApp, among others. More than 1 billion people worldwide are estimated to make use of such platforms.
But while the internet has its positive side, it can be an open door to different types of danger, especially for children and adolescents. In this sense, the family plays a key role in imposing limits and shielding children from the innumerable risks posed by the virtual environment.
To help in this reflection, Escola Bilíngue Pueri Domus held last week the workshop “Educating in Times of Danger in Social Networks” for parents of students of the Verbo Divino campus. The psychologist and coach Roberta Conte talked about the precautions families can take to protect and educate their children regarding the use of social media. She also gave an interview to Blog do Pueri, published below:
BLOG DO PUERI – Is there a right age to start using social networking sites?
ROBERTA CONTE – Regarding social networking sites, according to some experts, the ideal age to start using them is pre-adolescence. Of course, it relates to how parents interact with children or adolescents and the level of trust existing between them. I have been working for over 20 years with families in my private practice, and more important than saying yes or no to the use of social media is being aware of the relationships we establish at home. We cannot fit our children into a “little box” and say: that’s it, that’s the right one. Each family acts and functions differently. It is based on this relationship that we should say yes or no to the use of social networking sites by our children. There are three important issues to think about:
– As a parent, am I available to supervise my child’s use of social networking sites?
– Does my child have an open enough relationship with me to tell me about what I don’t see?
– Is it really important that my child already use social networking sites? What are the benefits and drawbacks of social media? Discuss this together and listen to what he or she has to say.
BP – What precautions should parents take? What issues should they be alert to?
RC – You can never be too careful. Just as the internet is very good and helps us in a lot of ways so that children can learn more and grow, it also has a devastating side, even in the emotional sense. Today we hear a lot about grooming, which is the issue of pedophilia in social media. So we cannot be too careful. We have to lay down certain rules or strike a few “deals” with them, and one of the most important for me as a mother and a professional is this: our children cannot access the internet behind closed doors, because inside their bedroom they may virtually “be” in a party, a violent game, an inappropriate movie, or even accessing pornographic websites or any other dangerous environment. Nowadays, dialogue must be the basis of our relationship with them. No subject should be too embarrassing to talk about. Of course, each age group has its doubts and questions, but as parents we must be prepared to talk and help them with the most important issues on the minds of our children and youngsters. In the past, when we went out, our parents would say “don’t talk to strangers”. And today our children may be talking to strangers inside their very bedroom, talking to people we can’t even imagine. Therefore, attention, contact with their reality, dialogue, open doors, these are habits that parents must necessarily nurture nowadays.
BP – Do you think parents should know the passwords to their children’s social networking sites?
RC – I think they should. What happens today is that we parents are at a loss. We don’t want to be annoying and hence end up forgetting what really matters, which is looking out for our most precious jewels. We no longer know how to set limits, negotiate rules, give orders and even be strict when necessary. We are afraid of setting limits for our children. We are afraid to say “we are looking out for you”. It is essential that we start developing a “counterculture” to do exactly the opposite. We really have to care for them. Because caring is loving. Saying “no” is a form of love. It is preparing our children to deal with future frustrations in all aspects of their lives. What was it like when we were young? Didn’t we also find our parents annoying when they told us not to do this or that or to put on a jacket? We found it all very annoying. Therefore, may our children find us annoying too, because that translates into care, love and limits. And that is what boosts children’s self-esteem and confidence in their parents: knowing that those “annoying parents” are looking out for them.
Pueri Domus – So we must also supervise the content our children access on the internet?
Roberta – All precautions are necessary. We have to know which YouTube channels our kids are watching. That is very important. We have to know which games they are accessing. Even their WhatsApp chats, Instagram posts and especially their Snapchat content, which is deleted after a certain time. Of course we won’t be able to control all those forms of social media, so opening a channel of dialogue with them has become our most powerful weapon. Although children or adolescents will resist, having that level of control is essential. But we need to find ways to enter that reality, the world of young people today. In my private practice I often hear mothers saying “but I don’t care about the internet”. You have to care. If you don’t care because you don’t like it, you have to care because your most precious jewel is using that means of communication and he or she may be taken from you at any moment.